sábado, 27 de outubro de 2012

Zoroastro (Cerca de 7.000 a 4.000 a.C.)



A Evolução Espiritual da Humanidade
(O Influxo Divino e A Pluralidade das Existências)


ZARATHUSTRA, o Supremo Legislador
(Zoroastro, para os gregos)
(Cerca de 7.000 a 4.000 a.C.)




“O homem de mente pura e correto, ó Ahura Mazda,
cuja alma é em harmonia com a verdade,
reflete apenas sobre ti e dedica a ti suas boas ações.
Ó Ahura Mazda, deixe-nos aproximar de ti,
louvando-te e entoando a ti tuas canções.”
Zoroastro

“Zarathustra é o verbo encarnado dos caldeus, dos medas e dos persas”.
Eliphas Levi (Ocultista)




Zoroastro que profetizou a vinda de Jesus, ensina-nos a retidão em relação aos princípios sagrados e o encontro da felicidade com a prática da bondade. Bondade em pensamento, palavra, e atos. “Eu creio que a pureza é a primeira virtude; que a segunda é a verdade; a terceira é a caridade, que as pessoas devem dirigir-se para às coisas boas, em pensamento, palavras e obras.”. Inclusive defendia a necessidade de respeito em relação às plantas e os animais; Ele bondoso com os pobres e animais; se opunha ao adultério e ao homossexualismo; que acreditava num Deus Uno, entendeu que o mal tinha origem nos próprios seres humanos. Que estabelecesse na mente das pessoas o pensamento divino, e que buscasse no reino espiritual a felicidade mesmo nas próprias aflições. Fala da polaridade em tudo, repetindo uma lei de Hermes "Lei da Polaridade". Também como Hermes acredita que os mortos passam por um Tribunal onde são julgados. Acredita em reencarnação. E, julgava deveriam ser banidas as imagens de deuses, tal como pregado no antigo testamento. Assim, o Profeta do Fogo, sua maior representação de adoração divina.

Por Martha Cibelli




Há cerca de dez mil anos a.C. surgiu, no oriente, um ser chamado Zarathustra, que influiu fortemente sobre a religiosidade dos povos do Levante. Seu nome para os gregos era Zoroastro. Sua doutrina tomou nomes diversos: Mazdeísmo, Magismo, Parsismo, Culto ao Fogo e Zoroastrismo. Este último nome deve-se a Zoroastro - pois assim foram chamados os grandes sacerdotes que sucessivamente ocuparam o lugar de preservadores da doutrina ensinada por Zarathustra, o supremo legislador.

Sobre o período certo do nascimento deste enigmático Guia espiritual apresentam-se questões curiosas. Aristóteles e Eudóxio assinalam sua presença na Terra na data de seis mil anos antes de Platão. Outros marcam a existência do misterioso legislador antes da Guerra de Tróia, no mínimo acontecida dez mil anos antes de Cristo. Daí fixarmos este período como o mais provável quanto á atuação mística do Profeta do Mazdeísmo.

Zaratustra (Zoroastro ou Zardust forma pálavi da tradução grega) viveu na Ásia Central, num território que compreendia o que é hoje a parte oriental do Irão e a região ocidental do Afeganistão. Não existe um consenso em torno do período em que viveu; os acadêmicos têm situado a sua vida entre 1750 e 1000 a.C.. Sobre a sua vida existem poucos dados precisos, sendo as lacunas preenchidas por lendas.

Zarathustra, (ou Zoroastro), foi um Avatar - Manifestação direta de Deus na terra - nascido na Pérsia e reestruturador do Mazdeísmo. Desde criança mostrava extraordinária sabedoria, manifestada em Sua maneira de ser. Sua vida foi salva muitas vezes dos inimigos que queriam martirizá-lo, para que não cumprisse sua missão divina ao chegar à maturidade.

Aos 15 anos de idade realizava valiosas obras religiosas chegando a ser conhecido por sua grande bondade para com os pobres e animais.

Aos 20 anos deixou o lar e passou sete anos em solidão, em uma caverna numa montanha. Antes de regressar para o seio do seu povo, e com a idade de 30 anos recebeu a Revelação Divina, que se iniciou por uma série de sete visões. Antes, porém ele vagou à procura da Verdade, totalizando assim dez anos de solidão. 

"(Zervanismo, divisão sectária do Zoroastrismo surgida na dinastia Sassânida defensora da idéia do princípio superior ao mundo causa de tudo o que existe). Um dia, quanto tinha a idade de trinta anos ele dirigiu-se para o rio Daiti onde ao cruzá-lo o Seu corpo submergiu na água - primeiro até os joelhos, depois até a cintura, e depois até o pescoço. Após atravessar para o outro lado ele executou o Yasna – (ritual de Ijashne) - quando então se apresentou a Ele uma Entidade brilhante e ardente que indagou o que ele queria. Zarathustra expressou o seu desejo que era entender a "Verdade". Então todas as perguntas que lhe atormentavam foram-lhe respondidas, pois o desejo dele era aprender sobre a Natureza e o Ser Supremo. (O parágrafos entre parêntesis são traduções da obra: A SAGA DE ZARATUSTRA conforme publicado via Internet).  A Entidade ardente (O símbolo do Zoroastrismo é uma chama.) - em chamas - era a Divindade da Mente Boa que disse para Zarathustra fechar os olhos e assim o transportou ao Tribunal de Ahura Mazda. Lá Ele viu o Deus Supremo, a Quem ele estava buscando com o coração e a alma. Viu Ahura Mazda ladeado por outras divindades poderosas, o Amesha Spentas. Zarathustra viu o Deus e o Seu luminar como uma incorporação da Pura Luz Celestial e Pureza Incorruptível Suprema".

De acordo com os relatos tradicionais zoroastrianos, Zaratustra viveu no século VI a.C.. Pertencia ao clã Spitama, sendo filho de Pourushaspa e de Dugdhova. Zaratustra era o sacerdote do culto dedicado a um determinado ahura. Aos trinta anos, enquanto participava num ritual de purificação num rio, Zaratustra viu um ser de luz que se apresentou como sendo Vohu Manah ("Bom Pensamento") e que o conduziu até à presença de Ahura Mazda (Deus) e de outros cinco seres luminosos, os Amesha Spentas. Este foi o primeiro de uma série de encontros que manteve com Ahura Mazda, que lhe revelou a sua mensagem.

O que o Profeta sabia intuitivamente desde o princípio por sua natureza divina fio endossado por aquela visão, ou seja, pelo próprio Ahura Mazda e pelas as Divindades Santas, e radicalmente diferente do pensamento das pessoas da época. Zarathustra viu que Ahura Mazda era o Deus Todo-bom e Todo-sábio que só desejava para as criações tudo bom e que não tinha um "rival" desde o início dos tempos conforme preconizava o Mazdeísmo de então. Entendeu, que o mal tinha origem nos próprios seres humanos.

"Zarathustra pediu compreensão quanto ao tipo de Ser que era Ahura Mazda. Este lhe revelou então que Ele era verdadeiro, aquele de Quem se originou a caridade, tudo o que podia fazer as pessoas felizes; aquele que deu origem ao fogo, a água e os animais, com consideração e reverência, e que agia como protetor deles. Que a pessoa deveria ser um ser íntegro no mundo de homens, pois só assim ela poderia chegar ter felicidades e tornar-se imortal".

Então "Ahura Mazda ordenou a Zarathustra que estabelecesse na mente das pessoas o pensamento divino, e que buscasse no reino espiritual a felicidade mesmo nas próprias aflições".

(A Vida de Zarathustra Santo; Framroze Rustomjee; página-33). - Exceto de um artigo por Adil F. Rangoonwala.





A Chama
Símbolo do Zoroastrismo


Essa missão naquela época fazia-se necessário porque a humanidade estava totalmente mergulhada em dúvidas e superstições. Nesse sentido lembremos as palavras de Krishna: Sempre que houver declínio da retidão e a injustiça triunfar, ó Barta (Arjuna), então, Eu Me manifestarei para proteger o Bem, destruir o Mal, e restabelecer a Justiça. Eu Me manifesto de tempos em tempos.

As autoridades civis e religiosas opunham-se às doutrinas de Zaratustra. Após doze anos de pregação Zaratustra abandonou a sua região natal e fixou-se na corte do rei Vishtaspa na Báctria (região que se encontra no atual Afeganistão). Este rei e sua esposa, a rainha Hutosa, converteram-se à doutrina de Zaratustra e o zoroastrismo foi declarado como religião oficial do reino. Zaratustra foi casado duas vezes e teve vários filhos. Faleceu aos setenta e sete anos assassinado por um sacerdote, quando se encontrava orando em frente ao fogo sagrado no Templo.

Os zoroastrianos acreditam que Zaratustra é um profeta de Deus, mas este não é alvo de particular veneração. Eles acreditam que através dos seus ensinamentos os seres humanos podem aproximar-se de Deus e da ordem natural marcada pelo bem e justiça (asha).




Escatologia

A escatologia individual do zoroastrismo afirma que três dias após a morte a alma chega à Ponte Cinvat. A alma de cada pessoa percepciona então a materialização dos seus atos (daena): uma alma que praticou boas ações vê uma bela virgem de quinze anos, enquanto que a alma de uma pessoa má vê uma megera.

Cada alma será julgada pelos deuses Mithra, Sraosha e Rashnu. As almas boas poderão atravessar a ponte, enquanto que as más serão lançadas para o inferno; as almas praticaram uma quantidade idêntica de boas e más ações são enviadas para o Hamestagan, uma espécie de purgatório.

As almas elevam-se ao céu através de três etapas, as estrelas, a Lua e o Sol, que correspondem, respectivamente, aos bons pensamentos, boas palavras e boas ações. O destino final é o Anagra Raosha, o reino das luzes infinitas.



História

A religião pré-zoroastriana

A religião do Irão antes do surgimento do zoroastrismo apresentava semelhanças com a da Índia Védica, dado que as populações que habitavam estes espaços descendiam de um mesmo povo, os arianos (ou indo-iranianos). Era uma religião politeísta, na qual o sacríficio dos animais e o consumo de uma bebida chamada haoma (em sânscrito: soma – diz-se tratar-se de um líquido extraído da árvore Figueira) desempenhavam nela um importante papel. Esta bebida era feita a partir de urina eliminada após o consumo de uma droga.

Centenas de anos depois os iranianos aprenderam a usar o bronze e domesticaram o cavalo construindo carruagens. Então alguns iranianos abandonaram a tarefa de cuidar do próprio gado e tornaram-se guerreiros que iriam de lugar para lugar tomando o gado alheio. Esta era a atitude de pessoas sem lei e com devoção direcionada aos deuses da guerra, cujos sacerdotes eram chamados Kavis que eram muito astutos na prática da magia negra.

Foi em tal ambiente que Zarathustra nasceu com a missão de corrigir todas aquelas distorções. Desde menino interessava-se pela natureza e queria saber como o mundo fora criado. A sua principal busca era direcionada para criação e o criador, e esse anseio o conduziram a Deus com Quem teve contato depois de vários anos de meditação. Na verdade Ele era uma manifestação direta de Deus na terra - Avatar.

Zarathustra foi naquela época o primeiro a pensar e em introduzir um modo de pensar e uma filosofia de vida completamente diferente da então existente, ensinando que só havia UM Deus que era chamado Ahura Mazda. (A primeira palavra Ahura já era usada pelo pre-Zoroastrianos para indicar o Deus). 

Os seres divinos enquadravam-se em duas classes, ambas de características positivas: os ahuras (em sânscrito: asuras; "senhores") e os daivas (em sânscrito: deivas; "deuses").

Vejamos o panorama reinante na Pérsia quando da vinda de Zarathustra. Aproximadamente 5.000 passados isto é, ao redor de 3.000 a.C. um grupo das pessoas denominados hoje de Proto Indo-iranianos vivia no sul das estepes russas, ao leste do rio Volga (Boyce). "Os Proto Indo-iranianos acreditavam em um conceito primitivo de ordem (Sanskrit). Eles sabiam que existia uma certa ordem no universo porque a noite seguiu dia, a lua crescia e minguava, e a cada ano as estações seguiram umas às outras. Eles acreditaram que esta lei era cuidada por divindades ou deuses chamados Asuras entre os quais Varuna e Mithra eram muito populares". Mas a fé do povo entrara em acentuado declínio depois que os Proto Indo-iranianos dispersaram-se. Especialmente no ramo que migrou para a Pérsia desde que o ramo que migrou para a Índia encontrou apoio de suas idéias na própria cultura védica.

Enquanto na Índia os imigrantes conservaram idéias mais exatas da natureza do Universo e de Ahura Mazda os do ramo persa passaram a adorar deuses, mais movidos pelo medo que pela fé. Por exemplo, quando viam um raio ou ouviam um trovão pensavam que os deuses estavam bravos com eles. Por isto para qualquer fenômeno natural, tais como terremotos, vulcões, tempestades de neve, furacões, eles atribuíam a fúria dos deuses e começaram a fazer sacrifícios de animais e de alimentos que ofereciam às deidades para satisfazê-las.

Os iranianos eram principalmente nômades, não tinham um lugar fixo para viverem. Sendo criadores de gado viviam deslocando-se à procura de pasto e de água fresca o que lhe condicionava uma forma de vida ao ar livre na natureza desenvolvendo então uma certa devoção por esta e a instituir um deus ou uma deusa para cada um dos elementos de natureza, i.e. eles acreditaram num deus que cuidava do céu (Asman); num outro, da Terra (Zam); outro, da Lua (Mah); outro, das águas ( Anahita ) e assim por diante. Este panteão inteiro de deuses e deusas recebia o nome de Ahuras. A palavra que Ahura vem da raiz "Ah" que significa "ser", assim Ahura pode ser entendido como o Ser.

Os iranianos acreditavam que o Ahuras deles era muito poderoso e os sacerdotes, chamados de Karapans, tinham muitos rituais incluindo sacrifícios de animais para homenagear as entidades que compunham o seu Ahuras. 








Zaratustra elevaria Ahura Mazda ("Senhor Sábio") ao estatuto de divindade suprema, criadora do mundo e única digna de adoração.

Outro conceito religioso por si apresentado foi o dos Amesha Spentas ("Imortais Sagrados"), que podem ser descritos como emanações ou aspectos de Ahura Mazda. Nos Gathas os Amesha Spentas são apresentados de uma forma bastante abstrata; séculos depois eles serão transformados e elevados ao estatuto de divindades. Cada Amesha Spenta foi associado a um aspecto da criação divina.

Os Amesha Spentas são:

1. Vohu Manah ("Bom Pensamento"): os animais;
2. Asha Vahishta ("Verdade Perfeita"): o fogo e energia;
3. Spenta Ameraiti ("Devoção Benfeitora"): a terra;
4. Khashathra Vairya ("Governo Desejável"): o céu e os metais e minerais;
5. Hauravatat ("Plenitude; Inteireza"): a água;
6. Ameretat ("Imortalidade"): as plantas.
7. Spenta Mainyu (Energia Criativa) - os seres humanos – energia criativa.


Atualmente os zoroastrianos dividem-se entre o dualismo ético ou o dualismo cosmológico, existindo também outros que aceitam os dois conceitos. Alguns acreditam que Ahura Mazda tem um inimigo chamado Angra Mainyu (ou Ahriman), responsável pela doença, pelos desastres naturais, pela morte e por tudo quanto é negativo. Angra Mainyu não deve ser visto como um deus; ele é antes uma energia negativa que se opõe à energia positiva de Ahura Mazda, tentando destruir tudo o que de bom foi feito por ele (a energia positiva de Deus é chamada de Spenta Mainyu). No final Angra Mainyu será destruído e o bem triunfará. Outros zoroastrianos encaram o dualismo no plano interno de cada pessoa, como a escolha que cada um deve fazer entre o bem e o mal, entre uma mentalidade progressista e uma mentalidade retardatária.

Os Gathas revelam também um pensamento dualista, sobretudo no plano ético, entendido como uma livre escolha entre o bem e o mal. Posteriormente, o dualismo torna-se cosmológico, entendido como uma batalha no mundo entre forças benignas e forças maléficas.
O principal documento que nos permite conhecer a vida e o pensamento religioso de Zaratustra são os Gathas, dezessete hinos compostos pelo próprio Zaratustra e que constituem a parte mais importante do Avesta ou livro sagrado do zoroastrismo. A linguagem dos Gathas assemelha-se à que é usada no Rig Veda, o que situaria Zaratustra entre 1500-1200 a.C. e não no século VI a.C.. Vivia na Idade do Bronze, numa sociedade dominada por uma aristocracia guerreira.

Para alguns investigadores, muito mais do que o fundador de uma nova religião, Zaratustra foi antes um reformador das práticas religiosas indo-iranianas. Ele propôs uma mudança no panteão dominante que ia no sentido do monoteísmo e do dualismo. Na perspectiva de Zaratustra, os ahuras passam a ser vistos como seres que escolheram o bem e os daivas o mal. Na Índia, o percurso seria inverso, com os ahuras a representarem o mal e os daevas o bem.

Zarathustra é o autor do Avesta ou seja "A Lei". Convém destacar que o Avesta é chamado comumente de Zend-Avesta. Isto por ignorar-se que zend significa "comentário". Entende-se então o Zend-Avesta como o "Comentário da Lei".

O Irã, antiga Pérsia, é o berço do nascimento de Zarathustra e sua doutrina.

Para alguns autores teriam existido dois Zarathustras, ou seja, dois reveladores, "um filho de Oromaso e pai de um documento valioso, e o outro filho de Arimã e autor de uma divulgação profana."

Diz ELiphas Levi que Zarathustra é o verbo encarnado dos caldeus, dos medas e dos persas. Lendariamente, lembrando Cristo, ele devia ter também seu Anticristo - que outro não seria senão o Zarathustra filho de Arimã, que significa o senhor do Mal e das Trevas.

Diz ainda o referido autor que é ao falso Zarathustra que se deve atribuir o culto do fogo material. De fato, os adoradores do fogo em seu aspecto concreto jamais poderiam ver neste elemento ígneo apenas o símbolo transcendente e metafísico pregado por quem encarnou o verbo Divino, ou seja, como um dos primeiros manifestantes de Deus, antes de Cristo.

Sem perda de tempo, voltemos nossa atenção para a doutrina revelada por Zarathustra, e recordada por todos os Zoroastros ou sacerdotes que a ensinaram durante milênios. Não deixemos de assinalar que os últimos Zoroastros, esquecendo a metafísica zarathustriana, geraram uma teologia que motivou a ritualística do culto direto ao fogo material. Fato este que sempre acontece quando o espírito de uma doutrina desce do plano puramente místico para a vulgaridade da fé somente nos ofícios religiosos.

A teologia zarathustriana em ternos metafísicos interpretada esotericamente por sábios iniciados, não deixa de merecer que a conheçamos. Assim sendo, segundo o Avesta, o Eterno ou Aquele, o Indefinível, teve um filho Primogênito chamado Ormuzd ou Ahura-Mazdâ, simbolizado pelo Sol por ser julgado a Luz das luzes, literalmente significa Grande Rei e expressa o Princípio do Bem.

Ahura-Mazdâ possui a sombra de si mesmo – Ahriman, Senhor dos Espíritos malignos, também conhecido como Angra Mainyu procedente do Zernâna Âkerna, o círculo ilimitado do Tempo.

Ahura-Mazdâ é considerado a síntese dos Amschas-pands, ou seja, os seis Anjos ou Forças divinas personificadas como deuses. Ahura-Mazdâ, contendo as referidas seis forças, é tido como a sétima Potência.

Alguns autores dão Ormuzd e Ahriman como irmãos. Dizem estes autores que, no início da Criação, Ormuzd de Ahriman possuíam a mesma pureza e elevação espiritual; mas este, levado pela ambição e vaidade, tornou-se o deus da Maldade. Daí ser Ahriman condenado pelo Senhor da Eternidade a viver doze mil anos na região das Trevas sem Fim.

Mesmo condenado às Trevas, o deus do mal não perdeu o Poder criador que Ormuzd recebera do Eterno. Desse modo, enquanto o deus do Bem pôde gerar Espíritos de Luz e bondade, o deus do Mal não perdeu tempo em criar Espíritos de sombra crueldade, fatores de toda dor e miséria que até hoje avassalam a humanidade sob desesperos que motivam o crime, a revolta e o pecado.

Segundo o Avesta esta luta dualística entre os poderes de Ohmuzd e Ahriman durará doze mil anos, até que Ahura Mazda seja vencedor, o que deve acontecer, segundo certos cálculos mágicos, em meados do terceiro milênio de nossa Era.

Ohmuzd, entre os Amschas-pands, criou uma divindade chamada Mithra, que representa a Verdade e a Fidelidade. Diz-se também que Ormuzd é o pai de Atar - gerador do Fogo. Atar encontra na Terra Anahita, divindade que tem sua expressão na Água. Do encontro de Atar e Anahita surge a Vida.

Os mazdeístas cultuavam os vegetais de cujos lenhos extraíam o fogo, sendo a mais importante Haoma, a figueira, tida como a Árvore sagrada; de seus frutos diziam obter o sumo que afugentava a Morte.

Em seu aspecto religioso, mas assim mesmo simbólico, o Mazdeísmo tinha como principal culto o Fogo, no seguinte ritual: O sacerdote, no meio de um circulo formado de homens e mulheres, friccionava uma haste vertical, extraída da Árvore sagrada, no orifício de uma madeira colocada horizontalmente no solo. No referido orifício, o religioso derramava manteiga clarificada. Após demorada fricção da haste vertical surgia o Fogo, Para os fiéis considerado expressão da Luz e da Vida que retornava ao coração do Sol - Agni - o Fogo do Espaço. Não pode ser esquecido que, durante o ritual, a haste vertical expressava Atar, o poder positivo, masculino; e a haste horizontal, Anahita, a passividade feminina ou a Água.

Quanto à Ética, os seguidores de Zarathustra, segundo o Avesta, lutam primeiro consigo mesmo, a fim de seu Eu luminoso, ligado a Ohmuzd, vencer o ego sombrio, ligado Ahriman. As principais virtudes do ser humano são: a retidão quanto aos princípios sagrados, e a felicidade interior nascida dos atos de bondade.

A Ética mazdeísta condena todo ato contra a Natureza, entre os quais são incluídos o adultério e o homossexualismo. É ressaltado o respeito não só aos semelhantes como também às plantas e aos animais, os quais, primitivamente, muitos eram tidos como sagrados. Dentro desses conceitos primitivos era proibido tocar nos cadáveres... talvez por sua aceitação de que a morte estava ligada a Ahriman e não a Ormuzd, que expressa a Vida.


Quanto à alma, o Avesta reconhece sua sobrevivência. Três dias após a morte, ela flutua em volta do cadáver num estado de inconsciência, sem saber que rumo deve seguir. Após este tempo, por vezes mais demorado para muitos falecidos, é chamada por certos agentes espirituais, cuja missão é conduzi-la, livre da atração corpórea, ao tribunal formado por Mithra, Sraosh e Rashun. Após a alma ser pesada é conduzida à Grande Ponte Oinvat onde, no final, a esperam dois deuses ou anjos, ou seja, um representante de Ormuzd e outra, de Ahriman. Se foi virtuosa, acompanha-a o representante do Bem; se pecadora, é precipitada no abismo infernal pelo representante da sombra. Segundo se deduz, o Avesta admite a reencarnação.

Um dos pontos surpreendentes da doutrina mazdeísta está no seu aspecto profético: antes do término do terceiro milênio, todos os mortos renascerão para presenciar o Juízo Final. Então, uma espécie de chuva de metal derretido cobrirá a Terra. Os maus serão destruídos sob a terrível chuva... Ahriman perecerá para sempre arrastando ao nada o Reino do Mal. A Virtude, a Paz e o Amor Universal brilharão sob a Luz de Agni, abrindo as portas da Idade de Ouro para a felicidade do Homem e de todos os reinos naturais da Terra.


Obra de Zoroastro – o ZEND-AVESTA

QUESTÃO TEXTUAL

A obra de Zoroastro é conhecida através dos Gathas, textos arcaicos mencionados em textos contemporâneos conhecidos com Yashts. BREUIL (1988) comenta que os Yashts contém vários elementos de religiões populares do antigo Irã. Todos estes textos fazem parte do Avesta tardio com grande influência dos magos que introduziram elementos do Zervanismo e Mitraísmo.

Avesta é uma palavra derivada do pálavi apastâk, de onde origina a palavra avasta que significa prescrição ou fundamento.

Sendo assim o termo Zend-Avesta introduzido por PERRON e DARMESTETER, acrescenta o termo zend  que significa conhecimento, originário do dialeto médio-parta que designa uma coleção de textos sagrados. Apastak-u-Zand que por muito tempo designou o conjunto da literatura Avéstica.

A língua dos Gathas é um iraniano oriental arcaico de origem semelhante ao sânscrito e a alguns dialetos afegãos. Os Yashts textos posteriores do Avesta foram escritos em pálavi do período Sassânida e mais tarde em persa.

COMPOSIÇÃO DO AVESTA

O Avesta atual corresponde a aproximadamente a um quarto do Avesta Antigo. O Avesta antigo possuía 21 livros ou nasks.

O Avesta tardio segundo BREUIL (1988) possui a seguinte estrutura:

a) Gathas (canto): parte mais antiga e santa do Yasna (sacrifico), composto de 72 hinos rituais. Os Gathas são 17 desses hinos atribuídos a Zoroastro e redigidos pelo seu discípulo Jamaspa. Os mesmos são divididos em cinco partes:

1) Gatha Ahunavaiti,
2) Gatha Ushtavaiti,
3) Gatha Spente Mainiu,
4) Gatha Vohukhshatra
5) Gatha Vahishtôishti.


No transcorrer dos anos acumularam-se muitos outros escritos em torno do Gathas, contudo muito deles foram destruídas pelos gregos e muçulmanos, especialmente durante a invasão mongol.

b) Yasht (adoração): hinos de louvor a diversas divindades de língua arcaica com alusões a história do Irã Oriental pré-Zoroástrico. Destacam-se o Farvadin Yasht e Ard Yasht hinos de divinização de Zoroastro.

c) Vendidad (lei contra os demônios) único livro completo que restou possui códice religioso, dogmas e leis provavelmente de época parta (Arsácidas 250-208 a.C.).

d) Vispered (todos os senhores) são textos litúrgicos antigos.

e) Niranganstan (código ritual e liturgia dos mortos) escritos parte em avéstico porém diferente dos Gathas, em pálavi da época Sassânida (212 - 642) e época da invasão islâmica no século IX.

f) Bahman Yasht (adoração do bom pensamento) apocalipse em pálavi com diversas profecias atribuídas a Zoroastro.

g) Arta Viraf Namak, livro da descida de Arta Viraf ao inferno.

h) Mainyo i-Khard (espírito de sabedoria), livro de questões e respostas doutrinárias.

i) Bundahism (livro da criação) quase um manual de cosmologia religiosa publicado por PERRON (1771) na sua versão do Zend-Avesta e no original por ANCLESÁRIA (1908) conhecido por Grande Bundahishn.

j) Vicitakiha i Zatspram texto de acentuada influência zervanita.

k) Denkart (obra da religião) constitui uma análise do Avesta data do século IX.

l) Dadistan i Denik, também do século IX que corresponde a respostas de Mihr Xvarset, estudioso da doutrina, sobre liturgia e dogmas da religião.

m) Srand Gumanik Vicar (Solução Decisiva dos Doutos), tratado sacerdotal de crítica às religiões estrangeiras (maniqueísmo (4), cristianismo, judaísmo e islamismo) e heresias.

n) Sayast Ne Sayast (do que é permitido e não permitido) regras de oração e ritual.

o) Saddar, regras de como ser um crente perfeito.

p) Rivayats, coleção de correspondências em persa entre os parses da Índia e os zartoshtis do Irã mantida no século XV ao século XVIII sobre costumes, cerimônias, prescrições usos e cultos.

q) Textos Épicos como: Shah-Na-Meh de Firdousi, Wis e Ramin de Gorgani (século X e XI) e Zarathuslt Nama de Zarathushti Bahram i-Pazdu antigas narrativas da época pálavi ou parta.


PROFECIAS

Podemos distinguir, na literatura Apocalíptica do Avesta, três títulos de Profetas que viriam após Zoroastro a saber:

a) Soshyans do pálavi que eqüivale a Nedjat Dahandeh no farsi que significa Salvador. Atribuídos às Dispensações posteriores a Zoroastro.

b) Hoshidar Mah e Hoshidar Boomit títulos atribuído a um Profeta que apareceria 1200 anos após Zoroastro.

c) Sháh Bahram Varjavand (Supremo Esplendor): Profeta que nasceria da semente de Zoroastro e que traria Glória ao Mundo.


 Jesus Cristo:

"Voltarei, e quando Eu vier tu verás uma estrela no leste. Segue-a e Me descobrirás recostado entre palhas" (citado por SCHÜRER)

Inspirados nesta profecia, conta a tradição, que os Reis Magos eram sacerdotes zoroastrianos que foram a Belém de Judá oferecer adoração ao menino Jesus. Os Reis Magos são mencionados uma única vez em Mt 02,01.

A suposição de que os Reis Magos eram adeptos de Zoroastro é confirmada por um manuscrito laurentiano do século XIII conservado em Florença, Zoroastro preveu que uma virgem daria luz a um menino que seria sacrificado pelos judeus. Na época de seu nascimento apareceria uma estrela que guiaria aqueles que crêem até o local do nascimento da criança.

No conjunto dos evangelhos apócrifos da natividade existe a referência no Evangelho Árabe da Infância de Jesus (versão latina de RHENUM, 1697) sobre a mesma profecia:



Alguns estudos aceitam a possibilidade dos três Reis Magos serem Anjos materializados. Melchior (Rei da Luz), Baltazar (Rei do Ouro, guardião do tesouro, do incenso e da paz profunda) e Gaspar (o etíope, que entregou a mirra contra a corrupção).

"E sucedeu que, havendo nascido o Senhor Jesus em Belém de Judá durante o reinado de Herodes, vieram a Jerusalém uns Magos segundo a profecia de Zardust (5)". (OTERO, 1954 p. 131).

 Sháh Bahram Varjand - Sôshyans - atribuído a Bahá’u’lláh:

Textos tardios em pálavi da época do reinado da dinastia Sassânida na Pérsia.

“... em um mundo de mais excelência, imperecedouro, indeclinável, que jamais terá fim e nem conhecerá corrupção....  Tal esperança é associada com a doutrina do Sôshyans, o Salvador, que apareceria no Fim dos Tempos, quando todas as forças do mal serão definitivamente vencidas no universo. ( LING, Tm I p.150)

...Não devo ter dúvidas..., a vinda do Sôshyans, a ressurreição dos mortos e o corpo final. (Conselhos dos antigos sábios textos pálavi, ZAEHNER p.16).

...Só no Sôshyans, o prometido Salvador que, nos últimos dias nascerá da semente de Zardust... Ele é destinado a restaurar o mundo. (ZAEHNER p. 82).

... Assim também o milênio de Oshertarmâh o poder de Âz(6)  diminuirá tanto que os homens se satisfação em comer a cada três dias e noites. Depois se absterão de comer carne, e comerão só vegetais e leite de animais domésticos. Depois se absterão de beber leite também; então pararão de comer vegetais e beberão somente água. dez dias antes da vinda de Sôshyans alcançam um estado que não comem nada porém não morrem. Então Sôshyans fará ressurgir os mortos... (Bundahism, ZAEHNER p.147).

... Nesse tempo em que a Reabilitação Final aconteça, quinze homens e quinze mulheres dentre aqueles bem-aventurados de quem está escrito que se chamam viventes, viram assistir Sôshyans...( Bundahism, ZAEHNER p.150).

...Então, ao comando do Criador, Sôshyans distribuirá a todos os homens suas retribuições e recompensas segundo suas obras... (Bundahism, ZAEHNER p. 152).”

Dia da Ressurreição mencionado nos Gathas:

Na oração, mãos erguidas, peço a alegria de realizar tuas obras. Ó Mazda, Deus da Luz. Enfrentaremos com júbilo a prova do fogo todo-poderoso, a tua no dia da Ressurreição. Ó Mazda, teu fogo ágil e forte, a irradiar a alegria, a também punir e queimar. Até a última revolução do mundo, até sua Ressurreição, o mestre do erro não fará uma segunda vez morrer o mundo. Darás poder aos justos, no fim dos tempos. E apresentarei a teu fogo a oferenda de minha oração. Caminho para a luz com todas as forças de meu desejo... (Gathas - GARAUDY,1981).

Profecia de Zoroastro explicada por Ábdu’l-Bahá:

Havias escrito que se encontra nos livros sagrados daqueles que seguem Zoroastro a profecia de que, nos últimos dias, em três Dispensações distintas, o sol haveria de parar. Na primeira Dispensação, segundo a predição, o sol permanecerá imóvel por dez dias; na segunda, por duas vezes este tempo; na terceira, por nada menos que um mês inteiro. A interpretação dessa profecia é a seguinte: a primeira Dispensação a que ela se refere é a Dispensação Maometana, durante a qual o Sol da Verdade permaneceu imóvel por dez dias. Cada dia representa um século. A Era maometana, portanto, deve ter durado nada menos de mil anos - exatamente o período que transcorreu entre o ocaso da Estrela do Imanato e o advento da Era proclamada pelo Báb. A segunda Dispensação mencionada nesta profecia é àquela inaugurada pelo próprio Báb, sendo que começou no ano 1260 (ano Hégira) e findou no ano 1280 (ano Hégira). Quanto a terceira - a Revelação proclamada por Bahá’u’lláh - desde que o Sol da Verdade, ao atingir essa posição, brilha na plenitude de seu esplendor meridiano, fixou-se um mês inteiro como o período de sua duração - o tempo máximo para a passagem do sol por um signo do zodíaco. Disto podes imaginar a magnitude do ciclo bahá’í - um ciclo que haverá de abranger um período de pelo menos quinhentos mil anos. (citado por RABBANI, 1953).


NOTAS

 1 -  Zervanismo divisão sectária do Zoroastrismo surgida na dinastia Sassânida defensora da idéia do princípio superior  ao mundo causa de tudo o que existe.
 2 -  ver nota 01
 3 -  culto ao deus Mithra, divindade solar do povo ária associado ao Zoroastrismo porém não mencionado nos Gathas.
 4 - Seita fundada no ano 250 d.C. por Mani, sacerdote da cidade de Ecbátana sob título de reformar o antigo Zoroastrismo. Caracteriza-se por um rígido dualismo entre o reino do espírito e da matéria e chegou a influenciar o Cristianismo.
 5 - Zardust forma pálavi da tradução grega Zoroastro.
 6 - Âz significa fome.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BREUIL, P.  Zoroastro Religião e Filosofia, São Paulo: IBRASA, 1987.
DUPPY, H. Zoroastro in Titãs da Religião vol VI.  Rio de Janeiro: EL Ateneo, 1960
HOVELACQUE, A. L’Avesta - Zoroastre et le Mazdeísme, Paris: Libraries’-Éditeurs, 1880.
MOURREAU, J.J. A Pérsia dos Grandes Reis e de Zoroastro, Rio de Janeiro: FERNI, 1977.
OTERO, A. S. Los Evangelios Apócrifos, Madrid,: Ed Católica, 1956.
RABBANI, Shoghi Effendi. A Dispensação de Bahá’u’lláh, Rio de Janeiro: Ed. Bahá’í do Brasil, 1953.
ZAEHNER, R.C. Las Doctrinas de Los Magos, Buenos Aires: Lidiun, 1983.
BAUSANI, Alessandro - "Lo Zoroastrismo" in Le Grandi Religioni, dir. Angelo Solmi, Volume VI. Milão: Rizzoli Editore, 1964.
BOYCE, Mary - Zoroastrians: Their Religious Beliefs and Practices. New York: Routledge, 2002. ISBN 0415239036.
SMART, Ninian - The World's Religions. Cambridge University Press, 1998. ISBN 0521637481.



Crenças dos Zoroastristas

1. Eu creio que há dois grandes seres no universo; um que é Ahura Mazda, criador dos homens e todas as coisas boas, beleza e verdade, e outro, Anra Mainyu, vivificador de todo o mal, do que é horrível e destrutível.

2. Eu creio que os homens são livres para direcionaram-se para o bem ou mal, e qual toda a humanidade estiver na harmonia com Deus Ahura Mazda, angra Mainyu será derrotado.

3. Eu creio que a alma é imortal, e cruza por sobre a morte, bem como o inferno, por uma ponte estreita; o bom cruza com segurança para o céu, e o mal cai dentro do inferno.

4. Eu creio em um salvador com o nome de Saoshyant, irá aparecer no final dos tempos, surgido de uma virgem, revivendo os mortos, recompensando os bons e punindo os maus, e, portanto, Ahura Mazda irá reinar.

5. Eu creio em Zoroastro, conhecido como Zarathustra, o primeiro profeta de Deus.

6. Eu creio nas autoridade das Escrituras, do Zend Avesta.

7. Eu creio que a pureza é a primeira virtude; que a segunda é a verdade; a terceira é a caridade, que as pessoas devem dirigir-se para às coisas boas, em pensamento, palavras e obras.

8. Eu creio que o casamento sobrepõem-se à continência; as ações à contemplação, e o perdão à vingança.

9. Eu creio em Deus como sete pessoas: luz eterna, retidão e justiça, bondade e amor; força do espírito, piedade e fé; riqueza e perfeição, e imortalidade, e que a Sua maior representação de adoração é através do fogo.


Enfim, são muitos os ensinamentos de Zoroastro. Três de Seus principais mandamentos são:

- falar a verdade

- cumprir com o prometido

- e manter-se livre de dívidas.

A Regra de Ouro do Zoroastrianismo é:

"Age como gostarias que agissem contigo."




Zoroastro ao nascer, ao invés de chorar, sorriu, de acordo com a lenda. Essa história traduz muito bem a sua visão positiva e alegre do mundo e de seu destino.

O antigo sistema de pensamento de Zoroastro, com todos os seus desdobramentos filosóficos, políticos e religiosos, continua atual em seus desafios e surpreendente abertura para a renovação.

A busca de Zoroastro começou como a de muitos dos profetas de então e de agora. Chocado com as contradições da sociedade de sua época e decepcionado com as respostas dadas pelo meio pensante ele decide fazer a sua própria descoberta. Difere, contudo, das dos outros, a sua busca, por não ter como desencadeante o problema da morte, mas o do estado de convivência social injusto de seu tempo e contexto. É interessante notar, desde logo, que ele começou fazendo perguntas e terminou descobrindo algo que lhe ajudou a fazer mais perguntas ainda, sem necessariamente acompanha-las com respostas.

Zoroastro descobriu o que queria, não como uma revelação e nem como coisa privativa sua. Ele encontra o óbvio, o que está escrito nas páginas da vida e pode ser lido por qualquer um. Ele é uma pessoa comum que no esforço de seu intelecto e na sensibilidade de seu espírito, consegue ver que este é um mundo bom, criado por um Deus bom e destinado a um estado de alegria radiante. Constatando isso, ele desenvolve uma proposta que tem tanto uma elaboração filosófica como consequências práticas para a vida.

A grande questão, colocada para ser resolvida por todos os sistemas filosóficos e religiosos, o bem e o mal, para Zoroastro se resolve dentro da mente humana. O bom pensamento ou boa mente cria e organiza o mundo e a sociedade, o mau pensamento ou má mente faz o contrário. Cabe ao ser humano fazer uma escolha e ele tem o poder e a capacidade de fazê-la. O Cosmo inteiro está a seu favor quando escolhe a boa mente, enquanto que a má mente isola e, portanto, angustia quem por ela opta. Essa escolha é feita no dia-a-dia da pessoa, em cada ação. Ninguém pode fazer uma opção definitiva, esse é um mecanismo dinâmico e progressivo.

Essa escolha não desencadeia a salvação ou perdição de alguém, ela é parte de um processo de aprendizagem contínuo, aberto e reformável de acordo com o contexto. Com o progresso de cada indivíduo progride o mundo e é acelerada a criação do universo. O quadro só será completado quando todos tiverem chegado lá. É como numa orquestra, o concerto só é possível após cada instrumento estar afinado. Aliás, essa é a organização interna de todas as coisas em suas especificidades. A condição da parte garante o funcionamento do todo.

Essa descoberta de Zoroastro levou a conclusões inusitadas e revolucionárias. Acenou com uma nova organização social e uma nova religião.

A religião baseada no medo do mistério e no apaziguamento de suas forças através da magia e da expiação não fazia mais sentido. Ele descobrira uma religião da alegria participativa. Admirada diante do fato de ser feita parceira de Deus em seu projeto de mundo, através de um processo de livre escolha e colaboração, a pessoa responde com o cultivo da Boa Mente, de Boas Palavras e de Boas Ações. Essa é a ética da responsabilidade.

Esse esforço, que inicialmente é individual e continuará a sê-lo, recebe, contudo o poder transformador de Asha.

Asha é o princípio organizador de Deus que traz em si todas as qualidades, justiça, retidão, cooperação, verdade, bondade etc. Asha age no mundo, em todos os setores e especialmente, nas pessoas que lhe abrem a mente. Ela estimula, provoca, incentiva e capacita à escolha e prática do bem. Asha poderia ser comparada à tomada que nos conecta a energia vital e criativa de Deus.

As pessoas que vão descobrindo a capacidade que têm de fazer essa opção vão se unindo na descoberta natural de que são parte de um todo magnífico, que se forma em parceria com Deus.

Nesse sistema não tem lugar de destaque a fé ou a crença. Não é necessário crer, é preciso saber e agir de acordo com o que se sabe. Temos aqui, então, uma religião do conhecimento.

A visão de mundo de Zoroastro não coloca o ser humano como o centro, o motivo de ser do planeta. Antes, uma das tarefas dadas pelo pensamento de Zoroastro é que o ser humano ache o seu lugar no mundo de forma harmoniosa, de modo a não desequilibrar o meio. Reverenciar e proteger a terra, a água, o ar e o fogo, além dos outros seres viventes, é uma preocupação constante que aparece no pensamento ghático.

Não há diferença de raças ou de gênero em Zoroastro. O Deus descoberto por Zoroastro não é tribal e não tem um povo escolhido dentre os outros povos. Tanto o homem como a mulher pode tomar a liderança, mesmo nos ritos religiosos.

Talvez o que há de melhor em Zoroastro seja a abertura, quase desafio para se seguir adiante perguntando, descobrindo, mudando e tudo isso, num movimento dinâmico de progresso. Nada está fechado numa ortodoxia oficial. Em seus cânticos ele faz 93 perguntas e as deixa sem respostas. Está ausente ali a arrogância de dono de uma verdade estática e acabada. E isso não traz insegurança e sofrimento, antes, a certeza de que o que importa está além e acima das idéias.

A doutrina de Zoroastro ensina a emancipação e a autonomia do indivíduo. Só a partir disso se torna possível a descoberta do outro como pessoa e consequentemente, a criação de comunidade. Não há lugar nessa visão para qualquer anulação do ego. Antes, o ego é reafirmado e colocado como base do encontro com o outro. Se sadio e bem amado o ego forte é poderoso na capacidade de doação e desprendimento.

A sociedade é para ser organizada dentro desses princípios de livre escolha, boa mente e busca do bem de todos os seres.

Os líderes têm que ser escolhidos por serem justos e equilibrados.

Zoroastro, apesar das dificuldades que enfrenta em seu tempo e que, também desencadeiam sua busca, não vê o mundo como arruinado, do qual urge fugir e se possível salvar alguns. Antes, o mundo é uma obra em fase de acabamento, ao qual somos convidados a unir criativamente as nossas vidas. Essa visão de mundo provoca uma ética diferente da que dominou o mundo ocidental, que recorre à punição/recompensa como veículo principal de estímulo ou contenção. A prática profunda desse pensamento na sociedade não teria criado um sistema judiciário com prisões.

O ser humano não está contaminado pelo pecado, antes, pelo contrário, capacitado à escolher a boa mente e a construir um mundo diferente. Uma leitura de Zoroastro com essa abundância de negações não lhe faz justiça. O contexto judaico cristão onde estamos inseridos porém, nos obriga a usar esses termos, pelo menos num primeiro momento. 

Resgatado e atualizado, esse velho pensamento pode fornecer material para a ética que precisamos nesse nosso tempo. Ele é aberto, estimula o conhecimento e a pesquisa, é ecológico, inclusivo e pode ser também fonte de uma profunda e rica espiritualidade.

Zarathushtra acredita-se, nasceu no dia 26 do mês de Farvardin a 3758 anos atrás (26 de março de 1767 a.C.), no começo da primavera. Seu pai, Pourushaspa, do clã Spitama de uma tribo iraniana, criava gado e era famoso pelos seus cavalos. A sua mãe, Dughdav, era conhecida por suas idéias avançadas. Eles viveram as margens do rio Oxus na Ásia Central.

Zarathushtra foi um menino curioso. Ele insistia em fazer perguntas sobre o mundo e quem o poderia ter criado. As respostas dadas pelos sacerdotes não o satisfaziam. Desapontado Zarathushtra voltou-se para si mesmo e para a natureza ao seu redor. A sua busca e pesquisa trouxe-lhe a iluminação que o levou ao Deus com quem passou a ter íntima comunhão. Ele tinha 30 anos de idade quando proclamou ao mundo a sua divina missão e começou a pregar a nova mensagem.

A sua mensagem era prejudicial aos interesses tradicionais dos sacerdotes e governantes de sua época. Eles se tornaram seus inimigos perseguindo a Zarathushtra e seu pequeno grupo de companheiros durante mais de dez anos. Por fim ele decidiu correr o risco de procurar pessoalmente o rei Vishtaspa.

O antigo Irã era uma região vasta, compreendendo o que hoje é conhecido como Ásia Central, inclusive o Afeganistão e o Paquistão. Ele era dividido em muitos reinos, agrupados em uma federação frouxa. Cada um deles governado por um khsathra, que pode ser traduzido como: autoridade da habitação. Alguns dos governantes eram tanto guerreiros quanto intelectuais. Esses governantes eram chamados também de kavis, significando sábios. Vishtaspa era um kavi poderoso do vale de Helmand, ao sul do país.

Apesar de seus inimigos o terem precedido junto ao rei tentando convencê-lo a tomar uma posição contra Zarathushtra, ele não desistiu e durante dois anos explicou a sua mensagem a família real. No fim desses dois anos estava estabelecida ali uma religião sem sacrifícios sangrentos e violência. Agora o caminho era através da Boa Mente, das Boas Palavras e das Boas Ações.

Zarathushtra tinha 42 anos de idade nessa época.

Todo o povo daquele país passou por uma completa transformação. Os filhos dos reis esqueceram o trono e saíram pelo mundo como missionários, os primeiros da história da humanidade. A Boa Religião se espalhou amplamente durante a vida de Zarathushtra. A sua missão foi um grande sucesso. Satisfeito com o fato de ver seus melhores desejos realizados, Zarathushtra faleceu com a idade avançada de 77 anos. O seu nascimento é celebrado todo ano com festa, a sua morte, contudo, nunca se tornou um rito religioso. Ele é uma entidade viva e nosso guia!

O fruto do trabalho de sues missionários resultou em algo inusitado até então na história da humanidade, uma comunidade composta por pessoas de muitas raças e nações.

A sua mensagem divina é uma revelação única, uma visão diferente, uma nova filosofia e uma doutrina singular. Ela limpa a mente humana de todos os preconceitos, supertições e maus pensamentos. Ela renega as deidades ferozes e proclama Ahura Mazda, a Essência da Sabedoria, o Deus que cria, mantém e promove o cosmo, esse bom e belo universo. A mensagem de Zarathushtra anuncia a paz, o progresso e a prosperidade nessa boa terra e uma vida que continua sendo abençoada após a morte.

A sua missão é uma mensagem viva. Ela é divina. É baseada no triplo princípio de Boa Mente, Boas Palavras e Boas Ações. Ela promove a mente humana e estimula a sua faculdade pensante. Ela resolve o complicado problema do bem e do mal os atribuindo a uma atitude mental. O bem e o mal são duas disposições mentais. Uma serve e promove a sociedade humana em um mundo ecologicamente são e a outra prejudica e retarda o seu progresso. O ser humano, nascido livre, tem a capacidade de escolher. Uma pessoa faz o bem ou o mal de acordo com a inclinação de seus pensamentos, palavras e ações. Boas ações levam a pessoa à integridade e as más ações produzem sofrimento, até que se consiga que a verdade prevaleça com a ajuda da luz. Os atos individuais e coletivos resultam em consequências positivas ou negativas para todos indistintamente.

A mensagem divina advoga que cada pessoa faça a boa escolha de favorecer com as sua boa atitudes a todo o mundo vivente, essa é a vontade de Deus. Ela reconhece a mulher e o homem como absolutamente iguais em direitos e dignidade. Não existe superioridade racial. A única superioridade está na prática do bem, a qual leva ao bem estar individual e coletivo e por fim faz desse um mundo melhor e mais pacifico. A liderança é muito importante nesse processo, por isso a escolha das pessoas para postos de serviço a comunidade, deve ser democrática e responsável.

A religião de Zarathushtra é sempre auto-renovável, abertas a mudanças para melhor por isso mesmo, é um guia para todas as épocas, povos e lugares.

A mensagem de Zarathushtra almeja o conhecimento de Deus, o amor entre as pessoas, o cuidar dos animais, das plantas, da água, do ar e dos minerais. Ela quer a promoção desse mundo ao qual é tanto material quanto espiritual.

Segundo Platão Zarathushtra é o pai da filosofia. O seu pensamento criou um sistema ético aberto que se aplica a todos os aspectos da vida.

Zarathushtra deixou a sua mensagem em 17 cânticos conhecidos como os Gathas. Eles chegaram até hoje trazendo a inteireza de suas palavras, uma maravilha viva, uma benção divina.

Os Gathas são orações a Deus e um guia para a humanidade. Cada uma de suas linha, em todos os seus versos é comunhão com Deus ao mesmo tempo em que transmite uma mensagem eternamente moderna. Os Gathas orientam a humanidade em harmonia com a ciência moderna. Com os Gathas como guia a pessoa aprende voluntariamente a buscar para si e para todos a Boa Vida, na prática da Boa Mente, da Boa Palavra e das Boas Ações.

Essa é a doutrina divina para a construção de um mundo melhor.


O Gathas é um livro pequeno, com 17 cânticos compostos por Zarathushtra Spitama no avestano antigo, para melhor e de forma mais eficaz, transmitir a sua mensagem. A palavra Gathas significa cânticos. Ele tem uma linguagem precisa e enxuta, não tem uma lista de mandamentos e nem um tratado doutrinário. Pelo contrário, é apenas uma expressão espontânea de questões comuns a todos os seres humanos, em todas as épocas e lugares.

Compostos a mais de três mil anos atrás, os 17 mantras do Gathas querem ser o ponto de partida, os provocadores do pensamento, não fecham nem concluem, antes, abrem as portas e convidam para uma longa e estimulante jornada de buscas e descobertas.

A simplicidade do Gathas é desconcertante e a sua profundidade um desafio. Aproximar-se dessa fonte com sede de Deus e de uma vida com sentido trará, a quem o faz, uma alegria inigualável. Sem amarras ou ameaças, a pessoa poderá livremente alimentar-se desse banquete milenar que são a sabedoria e a espiritualidade gáthica.

Para começar essa aventura sagrada, uma saudação do avestano. Ushta te! Que significa: alegria radiante para você! 










ORAÇÃO:

ashem vohû
ashem vohû vahishtem astî
ushtâ astî ushtâ ahmâi
hyat ashâi vahishtâi ashem.



8 comentários:

  1. Na nossa condição judaico-cristã ignoramos algumas das correntes filosóficas importantes que nos ajudam a compreender o mundo.
    Agradeço as informações

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  2. Parabéns pela postagem.
    Pesquisando sobre o início da agricultura no mundo e cheguei no seu blog.
    O arado de ouro que foi o símbolo do nascimento da agricultura, surgiu pelas mãos de Zaratrusta.

    Obrigado.

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  3. Gente, fiz este Blog para pessoas da "marca de vocês". Aproveitem!

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  4. pow esses cristões são ums merdas mesmo, querem ate a gloria de zarathustra a favor dessse jessus a quem nem os judeus aprovaram, zarathustra não profetizou vinda de jesus coisa nem uma param de distorce, vcs cristões usarm foi a lida historia de zara para cria esse jesus que vcs tem a fé.

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    1. Fernando, por gentileza, respeite qualquer opinião diferente da sua. E, de novo, por gentileza, não precisa fazer comentários desnecessários.

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  5. Excelente! Me ajudou a conhecer mais sobre o assunto! Conteúdo bastante consistente e completo! Continue com o ótimo trabalho. Obrigado!

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  6. Um porem. Zoroastro, ou Zaratustra viveu cerca de 600 anos antes de Cristo e nao "dez mil" ou mesmo"sete mil", quanto ainda nem existia a cicilizaçao

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    1. Olá Marcelo. Meu lindo este Zoroastro a que me refiro foi o primeiro Zoroastro. Deve saber que existiram muitos. Possivelmente o que você teve acesso era um Zoroastro de outra época.

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