Bem, eu não pertenço a Gnosis, mas
considero este texto espetacular nas múltiplas facetas do EGO, e, por isso
disponibilizo.
Vamos “calcar aos pés este bicho, chamado EGO”.
Espero consigamos sublimar estes “Eus
inferiores”.
Krishna e Buda, tratam deste tema como
ninguém.
Por Martha Cibelli
O Falso Sentimento
do Ego
Vamos
hoje falar um pouco sobre o "sentimento de si mesmo"; vale a pena
refletirmos sobre esta questão do sentimento de si mesmo. Convém entendermos a
fundo a questão do "falso sentimento do Eu".
Todos
temos sempre, no fundo de nosso coração, o sentimento de nós mesmos. Mas convém
saber se esse sentimento é correto ou equivocado; é necessário, portanto,
entender o que é este "sentimento do Eu".
Antes
de qualquer coisa urge entender que as pessoas estariam dispostas a abandonar
tudo, o álcool, o cinema, o fumo, as farras, etc., menos seus próprios
sofrimentos. As pessoas adoram suas próprias dores, seus sofrimentos. Se
desapegariam mais facilmente de alguma alegria que de seus próprios
sofrimentos. Entretanto, o que parece paradoxal é que todos se pronunciam
contra esses mesmíssimos sofrimentos e se queixam de suas dores, mas, quando se
trata de abandoná-los, de modo algum estão dispostos a tal renúncia.
Certamente,
temos uma série de "fotografias vivas" de nós mesmos; fotografias de quando
tínhamos dezoito anos, de quando éramos meninos, de quando éramos homens de
vinte e um anos, vinte e oito ou trinta, etc., etc. A cada uma dessas
fotografias psicológicas corresponde uma série de sofrimentos, isto é evidente,
e gozamos ao examinar tais fotografias, nos deleitamos ao narrar aos outros os
sofrimentos de cada idade, as fases dolorosas pelas quais passamos, etc.
Tem
um sabor bastante exótico, ou boêmio, poderíamos dizer, contar aos outros
nossas dores: quando lhes dizemos que somos pessoas experientes, ao lhes
contarmos nossas aventuras de criança, a forma como tivemos que trabalhar para
ganharmos o pão de cada dia, a época mais dolorosa da existência quando
andávamos por aí buscando os centavos para sobreviver - quantas dores, quantos sofrimentos!
- com tudo isto gozamos e nos deleitamos.
Ao
fazermos esse tipo de narrativa, parecemos realmente boêmios entusiasmados. Num
caso como esse, em vez de nos deleitarmos com a bebida ou o cigarro,
deleitamo-nos com a história, com a "novela", com o que nos
aconteceu, o que dissemos, o que nos disseram, com a forma como o vivemos,
etc., etc.
É
um tipo de boemia bastante exótico, que nos agrada. De modo algum parecemos
dispostos a abandonar nossos próprios sofrimentos - eles são o narcótico de que
todos gostam, o deleite que agrada a todos. Quanto mais acidentada uma vida,
mais exóticos nos sentimos, mais boêmios com nossas dores; isso é sem dúvida um
absurdo.
Mas
observem que a cada situação corresponde um sentimento: um sentimento do Eu, do
Mim Mesmo. Sentimos que somos, sentimo-nos existir.
Neste
momento vocês estão reunidos aqui para me escutar, e eu estou lhes falando;
vocês sentem que estão sentindo, têm aqui no coração o sentimento de si mesmos.
E estão certos de que esse sentimento é correto? É possivel que tenham certeza
disso. Será esse sentimento que têm neste momento o sentimento de existir, o
sentimento de ser e de estar vivo, será um verdadeiro ou um falso sentimento?
Convém
refletirmos um pouco sobre essas questões. Quando andávamos por aí, talvez
pelos bares, ou pelos "cabarets", tínhamos Sentimento? Sim, é óbvio
que o tínhamos. E esse sentimento seria o correto? A cada idade corresponde um
Sentimento, pois um é o sentimento de quando se tem dezoito anos, outro o que
se tem aos vinte e cinco, outro é o sentimento dos trinta e outro o dos trinta
e cinco; um ancião de oitenta anos terá também indubitavelmente seu próprio
sentimento - qual deles será o verdadeiro?
É
uma tremenda questão esta do sentimento de nós mesmos. O fato é que a pessoa
sente que está sentindo, sente que existe, sente que vive, sente que é, sente
que sente; tem coração e sente, e diz: "Eu", "Eu" e
"Eu". Mas os "Eus" são muitos, e, então, qual dos
"sentimentos" será o exato? Reflitam um pouco sobre esta questão.
Pensem! Vale a pena tratar de compreender esta questão.
Se
alguém desintegra um Eu qualquer, por exemplo, o ressentimento contra alguém;
está convicto de havê-lo desintegrado; porém, se o mesmíssimo Sentimento
continua a existir, há uma falha no trabalho - isto simplesmente nos indica que
o tal Eu que acreditávamos ter sido desintegrado não o foi, visto que o
Sentimento que lhe corresponde persiste.
Se
perdoamos a alguém, e, mais ainda, se cancelamos a dor que essa pessoa nos
causou, mas continuamos a ter igual sentimento, isto nos indica que não
cancelamos, portanto, a ofensa, ou a má lembrança ou má ação que esse alguém
nos causou. O Eu do ressentimento continua vivo.
Estamos
tocando num ponto muito delicado, já que participamos todos do Trabalho de Si
Mesmo e Sobre Si Mesmo. Quantas vezes acreditamos, por exemplo, ter
desintegrado um "Eu da Vingança"? Mas aquele Eu que tínhamos continua
sob a forma de sentimento; isto nos mostra que, portanto, não conseguimos
desintegrar tal Eu, isto é evidente. De modo que, portanto, existem em nós
tantos sentimentos quantos são os agregados psíquicos ou Eus que temos em nosso
interior. Se temos dez mil agregados psíquicos, indubitavelmente teremos dez
mil sentimentos de nós mesmos. Cada Eu tem seu próprio sentimento.
Assim,
pois, há uma pauta a seguir em nosso Trabalho sobre nós mesmos e é esta questão
do sentimento. Intelectualmente podemos ter aniquilado o Eu do Egoísmo, mas,
continuará existindo em nós o sentimento do Egoísmo, esse sentimento do
primeiro Eu, do segundo e do terceiro Eu?
Sejamos
sinceros conosco mesmos: se tal sentimento continua existindo, é porque o Eu do
Egoísmo ainda existe.
Assim,
hoje os convidei a compreender esta questão do Sentimento. Dá muito trabalho
fazer com que as pessoas se decidam a compreender a
necessidade de desintegrar o Ego, mas ainda mais trabalhoso é
compreenderem o que é o Sentimento. É algo tão fino, tão sutil...
De
qualquer modo, neste trabalho sobre nós mesmos, meus queridos irmãos, há três
linhas que precisamos entender:
Primeiro: O Trabalho sobre Nós Mesmos, com o propósito de
desintegrar os agregados psíquicos que levamos em nosso interior, viva
personificação de nossos erros.
Segundo: O Trabalho com as outras pessoas - precisamos aprender a
nos relacionarmos com os outros, e
Terceiro: O Amor ao Trabalho, o Trabalho pelo próprio Trabalho.
São
as três linhas a seguir.
Se
por exemplo, alguém diz e acredita que está trabalhando sobre Si Mesmo, mas não
se verifica nenhuma mudança na pessoa, se o Sentimento Equivocado do Eu
continua, se sua relação com os outros ainda é a mesma, está demonstrado que
esta pessoa não mudou, e, se não mudou, não está trabalhando sobre si mesma
corretamente, isso é óbvio.
Precisamos
mudar, mas, se após certo tempo de trabalho o Sentimento do Eu continua o
mesmo, se o modo de proceder com as pessoas é o mesmo, poderíamos acaso afirmar
que mudamos? Na verdade não, e a finalidade destes estudos consiste em mudar. A
mudança deve ser radical, porque até mesmo a própria identidade tem que
perder-se para nós mesmos.
Um
dia, por exemplo, Arce procurará Arce, mas Arce já não existe, ter-se-á perdido
para si mesmo, isso é claro. Um dia Uzcátegui dirá: "Que foi feito de
Uzcátegui? ", já não existe, terá desaparecido para Uzcátegui. Assim, na
realidade, até a mesmíssima identidade tem que perder-se para nós mesmos. Temos
de tornar-nos absolutamente diferentes.
Conheço
aqui mesmo, entre os irmãos - sei de alguns, cujo nome não menciono - alguns
que estudam comigo há anos e anos, vejo-os sempre na mesma, não mudaram, têm o
mesmo comportamento, cometem os mesmos erros - exatamente os mesmos erros
cometidos há vinte anos. Nada indica ou acusa qualquer mudança; não há nada
novo neles. Como são hoje? Como eram há vinte anos, ou há dez ou cinquenta
anos. Mudança, nenhuma.
Então,
que estão fazendo essas pessoas? Que fazem aqui? Estão perdendo o tempo
miseravelmente, não é verdade? Porque o objetivo de nossos estudos é mudar
psicologicamente, converter-nos em seres diferentes; mas se continuamos os
mesmos, se Fulano de Tal é o mesmo que era há dez anos, então não mudou nem
está fazendo nada, está perdendo seu tempo - isto é óbvio
Convido
todos vocês a esta reflexão. Querem ou não querem mudar? Se continuam sendo
sempre os mesmos, então, que estão fazendo? Com que objetivo estão aqui
reunidos na Terceira Câmara? Para que? Precisamos refletir melhor.
Uma
orientação a seguir é esta questão do sentimento do Eu. O sentimento do Eu é
sempre equivocado, nunca é correto. Devemos distinguir entre o Sentimento do Eu
e o Sentimento do Ser.
"O Ser é
o Ser, e a razão se ser do Ser é o próprio Ser ".
O
Sentimento do Ser é sempre correto, mas o sentimento do Eu é um sentimento
equivocado, é um sentimento falso! Por que os irmãos se deleitam com suas fotografias
psicológicas de vinte, trinta ou cinquenta anos atrás? Que se passa com vocês?
Cada
fotografia psicológica é acompanhada de um sentimento diferente. O sentimento
do jovem de dezoito anos que se embebeda, o do rapaz de vinte anos que anda com
a noiva ou pelo caminho pervertido, etc., qual desses será o correto? O que
tínhamos como rapazes de dezoito anos ou o que temos hoje, na idade de
cinquenta ou sessenta anos? Qual será o verdadeiro?
Nenhum
desses sentimentos é verdadeiro, nenhum deles é correto. Todos são falsos. É
falso quando alguém se sente um homem de dezoito anos com o mundo diante de si
e a quem as noivinhas sorriem. É falso aquele rapazinho de vinte anos que
acredita que vai dominar o mundo com seu rosto bonito. É falso aquele jovem de vinte
e cinco anos que anda de janela em janela. Tudo isto é falso! Qual desses
sentimentos será o real? Só a Consciência pode lhes dar um Sentimento Real.
Não
se esqueçam de que não há muita distância entre o Ser e a Consciência. A vida
tem três aspectos: o Ser (Sat, em sânscrito), a
Consciência (Chit) e a Felicidade (Ananda); mas a Consciência Real do
Ser, que não está muito distante do Ser em Si Mesmo, está engarrafada entre
esta multiplicidade de agregados psíquicos que personificam nossos erros e que
levamos em nosso interior. Só a Consciência pode dar-nos um Sentimento Correto;
mas este sentimento pareceria aos outros cruel, porque estes estão engarrafados
em falsos sentimentalismos que não têm nada a ver com o Verdadeiro Sentimento
do Ser.
O
Sentimento da Consciência Objetiva, Real, é o que importa; mas, para podermos
ter esse Sentimento Verdadeiro da Consciência Real e Objetiva, precisamos,
antes de tudo, desintegrar os agregados psíquicos. À medida que vamos
desintegrando os diversos agregados, viva personificação de nossos defeitos, a
Voz da Consciência irá se tornando cada vez mais forte; o Sentimento do Ser,
isto é, da Consciência, irá se fazendo sentir de forma cada vez mais intensa;
e, à medida que vamos passando a sentir com a Consciência, nos daremos conta de
que o Falso Sentimento do Eu nos conduz ao erro.
Mas
isto é muito sutil, sumamente delicado, pois todos nós sofremos muito na vida,
isto é óbvio. Temos marchado também pelo caminho do erro, o que é patético; e,
em todos os aspectos de nossa vida, em cada processo, em cada instante, temos
sentido aqui no coração algo, algo, algo, algo que se chama sentimento. Temos
sempre considerado esse "algo" como a Voz de nossa Consciência;
temo-lo considerado como o Sentimento de Si, como o Sentimento Real ao qual
temos obedecido, como o único que pode conduzir-nos pelo caminho certo
("reto"), etc. Mas, infelizmente, temos estado equivocados, meus
queridos irmãos !
A
prova de nosso equívoco é que mais tarde tivemos outro Sentimento completamente
diferente, totalmente distinto, e bem depois ainda outro Sentimento também
diferente; qual dos três era então o verdadeiro? Assim, temos todos sido
vítimas de um auto-engano. O Sentimento do Eu sempre
nos guiou, temos sempre confundido o Sentimento do Eu com o Sentimento do Ser.
Temos sido vítimas de um auto-engano, e nisto não pode haver exceções, até
mesmo eu marchei pelo caminho do erro quando tomei o Sentimento do Eu pelo
Sentimento do Ser. Não há exceções, todos temos sido vítimas do auto-engano.
Chegar
a sentir verdadeiramente, chegar a ter o Sentimento Preciso, é algo tremendo.
Esse Sentimento Preciso é o da Consciência Superlativa do Ser. De qualquer
modo, devemos seguir pelo caminho da Aristocracia da Inteligência e da Nobreza
do Espírito. À medida que avancemos por essa senda tão
difícil do Auto-Conhecimento e da Auto-Observação de Si Mesmos, de
momento em momento, iremos também aprendendo a sentir corretamente. Iremos
aprendendo a conhecer o Sentimento Autêntico da Consciência Superlativa do Ser.
O
Ser é para nós o que conta, é o importante, e o Sentimento tem um grande papel
nessa questão do Ser, um tremendo papel. Quantas vezes acreditávamos estar indo
bem pelo caminho da vida, guiados pelo Sentimento vivo de uma autêntica
Realidade; aconteceu que andávamos então pior do que antes porque guiados por
um falso sentimento, o do Eu.
Há pessoas incapazes de desapegar-se do Falso Sentimento do Eu. Jamais! Têm
uma série de "fotografias" ou imagens de Si Mesmas que não
abandonariam por nada na vida, nem por todos os tesouros do mundo. Gozam com
suas dores e renunciar a elas seria pior que a própria morte. As pessoas vivem
se queixando e gozam com seus lamentos, jamais abandonariam suas dores. É
terrível isto que estou lhes dizendo, doloroso mas verdadeiro.
Devido
a um Falso Sentimento do Eu podemos perder toda uma existência íntegra.
Passam-se os vinte anos, e os trinta, quarenta, cinquenta, os sessenta e
chegamos aos oitenta (se por acaso chegamos, pois muitos morrem antes dos
oitenta) com o mesmo conceito falso, o mesmo Falso Sentimento do Eu para ser
mais claro, e esse Falso Sentimento que temos do Eu nos
"engarrafa" completamente no Ego, e por fim morremos sem haver dado
um só passo adiante.
Comumente
as pessoas, ao enfrentarem a vida, não recebem as experiências diretamente na
Consciência; têm muitos e terríveis preconceitos e prejuízos em sua mente.
Qualquer desafio é, portanto, imediatamente escudado, recebido com algum
prejuízo ou preconceito. Tudo o que ocorre na vida chega, não à Consciência,
mas a toda essa multiplicidade de preconceitos que levamos dentro, a toda essa
diversidade de sentimentos equivocados e contraditórios - nunca à Consciência,
e, como resultado, permanecemos adormecidos por toda a vida.
Olhemos
por exemplo um velho neurastênico, de oitenta anos, torpe e rançoso no pensar,
"engarrafado" em algum dogma; tem um Sentimento de Si Mesmo
totalmente equivocado. Quando alguma impressão ("algo") o atinge, não
toca sua Consciência; tudo o que lhe chega, chega apenas à sua mente, e esta,
como está cheia de preconceitos, costumes, hábitos mecânicos, etc., reage então
de acordo com seu próprio condicionamento - violentamente, covardemente, etc.
Já
viram algum ancião de oitenta anos reagindo? Vocês já sabem como é, sempre as
mesmas reações. Por que? Porque tudo lhe chega à mente,
não toca nunca sua Consciência, chega à sua mente e esta logo o interpreta a
seu modo. A mente julga tudo segundo lhe parece, como está habituada a
julgar, como crê ser verdadeiro, e o Falso Sentimento do Eu respalda essa forma
equivocada de pensar. Conclusão: quem tem um Falso
Sentimento perde sua vida miseravelmente.
O
fato é que é preciso chegar ao Sentimento Correto, mas este é o da Consciência.
Ninguém poderia
chegar a ter este Sentimento Correto se não desintegrasse os agregados
psíquicos. À medida que alguém desintegra seus agregados psíquicos o
Sentimento Correto se manifesta. Quando a desintegração é total, também o
Sentimento Correto é total.
Comumente,
entretanto, o Sentimento Correto de Si Mesmo está em luta com o Sentimento
Falso do Eu. É que o Sentimento Correto da Consciência
está muito além de qualquer código de ética, além de qualquer código moral
estabelecido por alguma religião, etc. No fundo, os conceitos morais
estabelecidos pelas várias religiões resultam comumente falsos.
Como
a Consciência humana está atualmente tão adormecida, foram inventados diversos
sistemas pedagógicos, sociais, éticos, educativos e morais para que possamos
andar pelo caminho reto, mas nada disso serve para nada. Há uma ética própria
da Consciência, mas esta pareceria imoral aos santurrões das diversas correntes
religiosas.
Os
livros dos Paramitas do Tibet
Oriental expõem uma ética que jamais se encaixaria em qualquer culto, pois é a
ética da Consciência; e não estou, com isso, me
pronunciando contra nenhuma forma de religião, mas unicamente contra certas
formas ou armaduras enferrujadas dentro dos quais estão hoje em dia
"engarrafados" a Mente e o Coração, certas estruturas caducas e
degeneradas de falsa moral convencional - contra isso é que estou me
pronunciando.
Nesses
estudos [Gnósticos] não se trata de seguir ou de viver de acordo com certas
formas petrificadas de moral; aqui o que se deve
desenvolver é a capacidade de compreensão. Necessitamos constantemente
avaliar a nós mesmos para descobrir o que temos e o que nos falta. Há muita
coisa que devemos eliminar e muito que devemos adquirir, se é que queremos
seguir o caminho certo; mas o Sentimento equivocado do
Eu não permite a muitos avançar pela difícil senda da liberação; esse
Sentimento Equivocado do Eu é sempre confundido com o Sentimento do Ser, e se
não abrirmos bem os olhos, o Sentimento Equivocado do Eu pode fazer com que
fracassemos todos na presente existência.
O
Ser é o que importa, mas está muito fundo, muito profundo... Realmente o Ser em
Si Mesmo é a Mônada Interior. Lembremo-nos de Leibnitz e suas famosas
"Mônadas". A Mônada em si mesma é o que chamamos Neshamah em
hebraico, ou seja, Atman-Budhi. Atman... Quem é o Atman? É o Íntimo, o Ser.
Precisamente
sobre isso, o livro "Deuses Atômicos" nos diz: "Antes que a falsa aurora aparecesse sobre a
Terra, aqueles que haviam sobrevivido ao furacão e à tormenta adoraram o
Íntimo, e a eles apareceram os Arautos da Aurora... "
Neshamah, ou seja, Atman-Budhi, é a Mônada citada por Leibnitz em sua "Filosofia
Monádica". Atman é o Íntimo, Budhi é a Alma Espiritual, a Consciência
Superlativa do Ser;
os dois, integrados, constituem a Mônada, isto é óbvio. A Mônada, por sua vez,
se desdobrou na Alma Humana, que é o "Manas Superior" dos
orientalistas. Essa Alma Humana é em princípio completamente germinal, mas
dela, por desdobramento, resultou a Essência, que é a única coisa que os
animais intelectuais têm encarnada em seu interior. Essa Essência está
"engarrafada" entre os diversos agregados psíquicos que levamos
dentro de nós.
Em
hebraico, Neshamah é precisamente Atman, Atman em seu aspecto inefável. Budhi é
Ruach, e Atman-Budhi se diz "Ruach" em geral. Nephesh é a Alma Humana
ou Alma Causal, de onde precisamente deriva a Essência que cada um tem em seu
interior. Essa Essência precisa ser despertada, é a parte da Consciência que
temos dentro, essa Essência há que pô-la em atividade; infelizmente está
adormecida, presa dentro dos agregados psíquicos inumanos que por desgraça
levamos em nosso interior.
(Quem conhece Cabalah entende melhor estes conceitos acima)
É
preciso entender que, quando alguém trabalha sobre Si Mesmo, entra no caminho da
Revolução da Consciência, aspira a receber algum dia seus princípios anímicos e
espirituais, quer dizer, converte-se em um Templo da Mônada Interior, pois é
óbvio que uma Essência desenvolvida desperta, integra-se, funde-se
completamente com a Alma Humana no Mundo Causal. Muito mais tarde ainda vem o
melhor: os Esponsais, o Casamento, a integração dessa Alma Humana com a Mônada;
quando isso ocorre, o Mestre se Auto-Realizou totalmente.
Assim,
o que possuímos, a Essência, deve ser trabalhada. Devemos começar por
"desengarrafá-la"; é uma fração da Alma Humana em toda criatura e há
que despertá-la, pois está adormecida em meio aos agregados psíquicos que
levamos em nosso interior.
Essa
Essência tem seu próprio Sentimento Correto, que é diferente, completamente
diferente do Falso Sentimento do Eu. Essa Essência - com seu Sentimento -
realmente emana da verdadeira Alma Causal ou Alma Cósmica; assim, o Sentimento
da Essência é o mesmo da Alma Cósmica, o mesmo que existe na Alma Espiritual, o
mesmo que existe no Íntimo ou Atman...
Quando
alguém entra por este caminho, descobre que ingressou na Senda da Revolução da
Consciência, e a Revolução da Consciência é tremenda,
porque de fato traz consigo a Revolução Intelectual e a Revolução Física.
A Revolução da Consciência provoca uma série de revoluções intelectuais
extraordinárias e, por sua vez, como resultado, dá-se a Revolução Física.
Na Alquimia, por exemplo, fala-se na Reincrudação do Corpo Físico,
na Invulnerabilidade e na Mutação. É óbvio que aquele que obteve o
despertar total, aquele que atingiu a Iluminação, pode alimentar-se com a
Árvore da Vida, e seu Corpo Físico pode, se assim o quiser, tornar-se
invulnerável e mutante - isto pode ser conseguido mediante a Reincrudação
Alquimista. Um iluminado sabe muito bem como se consegue a reincrudação.
Assim,
tem-se três Revoluções em uma: a Revolução da Consciência traz consigo a Revolução
Intelectual e também a Revolução Física.
Os
grandes Adeptos da Consciência, esses que obtiveram realmente o despertar, são
Iluminados, e muitos deles são imortais. Lembremos
Sanat Kumará, o "Ancião dos Dias", o fundador do Colégio de Iniciados
da Irmandade Branca. Trouxe seu corpo físico à Terra desde Vênus. Esse
Grande Mestre, havendo já transcendido qualquer necessidade de viver neste
mundo, deixou-se ficar aqui para ajudar aos que seguem a Senda Pedregosa que
conduz à Libertação Final.
Sanat
Kumará pode submergir-se totalmente no Oceano da Grande Luz, mas renunciou a
toda felicidade para ficar aqui conosco, e permanece conosco, por Amor a nós.
Neste
caminho que estamos percorrendo, é urgente compreender a forma de nos
relacionarmos corretamente com nossos semelhantes; se estamos trabalhando sobre
Nós Mesmos, devemos também levantar a tocha para iluminar o caminho de outros,
para mostrar-lhes o Caminho, e isso é precisamente o que fazem os Missionários
Gnósticos: mostrar a outros a Senda da Libertação.
No
Oriente se fala claramente de dois tipos de seres que seguem esse caminho.
Podemos chamar o primeiro tipo de Sravacas e Buddhas Pratiekas. São obviamente
ascetas, sabem que o falso sentimento do Eu só pode conduzir ao fracasso.
Compreendem isto, preocuparam-se em trabalhar intensamente sobre si mesmos,
fizeram seus votos; alguns deles até tem diluído o Ego, mas não fazem nada
pelos outros, não fazem nada pelo próximo.
Estes
Buddhas Pratiekas e Sravacas obviamente gozam de certa iluminação e alguma
felicidade, mas nunca chegaram verdadeiramente a ser Bodhisattwas no sentido
mais restrito da palavra.
Há
dois tipos de Bodhisattwas: os que têm o Bodhisitta em seu interior e os que
não o têm. Que se entende por Bodhisitta ou Bodhisitto? Simplesmente que
trabalham pela humanidade à base de diversas renúncias e por Kalpas inteiros,
manifestando-se nos mundos e renunciando a qualquer tipo de felicidade. Estes
possuem os Corpos Existenciais de Ouro Puro, pois é isto o Bodhisitta: os
Corpos Existenciais do Ser e a Sabedoria da experiência adquirida através de
sucessivas eternidades.
O
Bodhisitta de um Buddha é na verdade um Bodhisattwa devidamente preparado, que
pode realizar com perfeição e eficiência todos os trabalhos que o Buddha
Interior lhe confiou. Poderia o Bodhisattwa que realmente se desenvolveu no
terreno vivo do Boddhisitta fracassar nos trabalhos que deve realizar? É
evidente que não, pois está devidamente preparado.
Entende-se
portanto, por Bodhisitta, precisamente todas essas experiências, todos esses
conhecimentos adquiridos através das idades, os Veículos de Ouro Puro, a
Sabedoria Evidente do Universo. Obviamente, o Bodhisattwa, provido do
Bodhisitta, se manifesta ao longo (através) de vários Mahanvantaras e
finalmente vem a converter-se num Ser Omnisciente.
A
Omnisciência é algo que se precisa conquistar, não se "ganha de
presente"; é um produto de diferentes manifestações cósmicas e de
renúncias incessantes.
O
Bodhisattwa que possui dentro de si o Bodhisitta, ou seja, toda esta soma de
Conhecimentos, Experiências e Veículos de Ouro, etc., jamais se deixaria guiar
por um Falso Sentimento do Eu. Mas este Falso Sentimento do Eu costuma
refinar-se espantosamente. Muitos indivíduos que já obtiveram grande elevação
espiritual são ainda, entretanto, vítimas do Falso Sentimento do Eu.
Compreender isto é básico para a Grande Obra, é fundamental...
Todos
nós temos direito a aspirar à Iluminação; entretanto, não devemos cobiçar a
Iluminação. Ao invés disso, devemos preocupar-nos com a desintegração dos
Agregados Psíquicos que levamos em nós; vigiar intensivamente esse Falso
Sentimento do Eu, aniquilá-lo, pois pode fazer-nos estagnar, pode levar-nos ao
auto-engano, fazer-nos pensar que vamos indo bem, fazer-nos acreditar que é a
Voz da Consciência, quando na realidade se trata da voz do Ego.
Quero
que compreendam claramente que um dia terão de fabricar dentro de si mesmos o Bodhisitta, isto é, elaborar essa experiência,
elaborar esse conhecimento que o Trabalho sobre Si Mesmos lhes vai conferindo.
Com tal conhecimento e experiência, vocês não falharão. À medida que vão
desintegrando esses agregados psíquicos que lhes dão o Falso Sentimento do Eu,
irão se alimentando com o Pão da Sabedoria, com o Pão Transubstancial vindo do
Alto, pois cada vez que se desintegra um Agregado Psíquico libera-se uma
percentagem de Consciência e se adquire de fato uma virtude, um conhecimento
novo, algo extraordinário...
A
propósito de Virtudes, devo dizer-lhes que quem não é capaz, por exemplo, de
apreciar as gemas preciosas, tampouco poderia conhecer o valor das Virtudes. Estas são em si mesmas valiosas e preciosas, mas é impossível
adquirir qualquer Virtude sem haver previamente desintegrado o defeito que
constitui sua antítese. Não poderíamos, por exemplo, adquirir a Virtude
da Castidade se não desintegramos o defeito da Luxúria. Não poderíamos adquirir
a Virtude da Mansidão, se não desintegramos em nós mesmos o defeito do
Ressentimento. Não poderíamos adquirir a Virtude do Altruísmo se não eliminamos
o defeito do Egoísmo.
O que importa, portanto, é que compreendamos a necessidade de
eliminar nossos defeitos, pois só assim irão nascendo em nós as gemas preciosas
das Virtudes.
De
qualquer maneira, o objetivo desta prática de hoje foi o de chamar sua atenção para
o Falso Sentimento do Eu. Vocês terão que aprender a sentir a Consciência,
a ter um sentimento correto da Consciência Superlativa do Ser. Essa Consciência
Superlativa emana originalmente de Atman, o Inefável, ou seja, o Íntimo, o
Ser...
Assim,
meus queridos irmãos, aqui terminamos esta palestra. Sintam-se inteiramente
livres para perguntar o que quiserem em relação ao tema.
PERGUNTAS
E RESPOSTAS
Venerável
Mestre, qual a relação entre as sensações e o sentimento?
Sensações
são sensações, e podem ser positivas ou negativas. Toda sensação resulta de
alguma radiação ou impressão externa. Por exemplo: temos uma sensação de dor,
produzida por alguém, seja através da palavra ou de uma pancada; sobrevém então
uma sensação de dor. Ou uma sensação de alegria: quando alguém nos trata bem ou
aspiramos um perfume delicioso. Em todo o caso, sensações são sensações; mas o
sentimento se leva no coração, é diferente, envolve o centro emocional, e nunca
se deve confundir o Sentimento Autêntico do Ser, de Atman, da Mônada, da
Essência, etc. (do Ser em geral) com o sentimento do Eu. Cada Eu tem sua forma
de sentimento, e comumente esses sentimentos do Eu nos levam ao fracasso.
Venerável
Mestre, em que idade ou etapa do desenvolvimento do indivíduo se manifestam Eus
característicos, próprios dessa idade?
Certamente
que isto ocorre de acordo com a Lei de Recorrência,
porque, se numa passada existência, aos trinta anos de idade, tivemos uma briga
num bar, o Eu correspondente àquela rixa permanece no fundo de nós mesmos,
aguardando aquela idade de trinta anos para voltar a manifestar-se. Quando
chegar essa idade sairá então e irá procurar um bar com o propósito de
encontrar-se com o homem com quem brigou. Este fará o mesmo, e por fim se
encontrarão no bar voltarão a brigar, essa é a Lei de Recorrência.
E
se, na idade de vinte e cinco anos, tivemos uma aventura amorosa, também na
mesma idade o Eu que estava aguardando lá no fundo sairá à superfície,
controlará o intelecto, controlará o coração e irá procurar a amada de seus
sonhos. Ela fará o mesmo, e ambos se encontrarão para repetir a aventura.
Assim, o robô humano está programado pela Lei de Recorrência. Em todo o
caso, o Ser, o verdadeiro Ser, não se expressa no animal intelectual, vive
normalmente na Via Láctea. O que atua neste mundo é o robô programado pela Lei
de Recorrência.
É
preciso desintegrar o Ego e despertar a Consciência para que a Mônada,
Atman-Buddhi, o Ruach Elohim que, segundo Moisés, "lavrava as
águas no princípio do Mundo", o Rei-Sol, volte a expressar-se naturalmente
dentro de nós, venha à manifestação, ingresse em nossa pessoa humana. Só Ele
pode fazer.
As
pessoas crêem que fazem e não fazem nada. Atuam de acordo com a Lei de
Recorrência, são máquinas programadas, e isto é tudo!
Venerável
Mestre, a Segunda Guerra Mundial foi uma recorrência da Primeira?
Tudo
se repete sempre, é verdade, de acordo com a Lei de Recorrência. A Segunda
Guerra Mundial nada mais foi que repetição da Primeira, e a Terceira será uma
repetição da Segunda.
Mestre,
pode explicar-nos como alguém pode acreditar haver eliminado um defeito, quando
na verdade não é assim?
Sim,
pode-se acreditar que se eliminou determinado defeito psicológico, mas se o
Sentimento correspondente a esse Eu continua em nós significa que o defeito não
foi eliminado. Assim, esse conhecimento nos dá um modo de saber se realmente
eliminamos tal ou qual Eu. É um padrão de medida que nos permite descobrir se
já eliminamos determinado Agregado Psíquico.
Mestre, como
poderia explicar-nos o fato de que o Anjo Adonai tenha Karma?
Bem,
Adonai, o Filho da Luz e da Alegria, que eu saiba não tem Karma. Se demorou a
eliminar algum elemento indesejável, isso já passou.
Venerável
Mestre, pelo que compreendi, o Karma de Adonai se devia às lembranças da
Alma...
Bem,
mas isto é uma conjectura, e devemos basear-nos em fatos. Não sei se Adonai tem
Karma, pelo menos não fui informado sobre isso, esta é a verdade. Pelo que
entendi, não tem Karma. No momento tem corpo físico e vive na Europa, é um Adepto
maravilhoso, pertence ao Círculo Consciente da Humanidade Solar, que age sobre
os Centros Superiores do Ser; vive como um desconhecido na Europa, na França...
Mestre, há
outros Kumarás além de Sanat Kumará, o Venerável Mestre?
Entende-se
por Kumará todo Indivíduo Ressurrecto;.desde que ressuscite é um Kumará.
Obviamente os Kumarás, assim como os Pitris, são os que ajudaram a criar, a dar
vida à nossa forma física humana.
Entretanto,
os Agnishwatas, que são Deuses Solares, me parecem mais interessantes que os
Kumarás. O certo é que os Deuses Solares que governaram a Terra e a Humanidade
da Primeira Raça voltaram para o Sol. Haviam vindo do Sol e a ele regressaram,
e na futura Grande Raça Raiz voltaremos a receber a visita dos Deuses Solares.
Virão do Sol, viverão em meio à humanidade e estabelecerão a Sexta Raça Raiz
sobre a face da Terra. Governarão os povos, nações e línguas, são Governantes.
Entre as doze constelações do Zodíaco, a constelação mais importante é
obviamente a de Leão. O Sol tem seu trono em Leão.
Os Deuses Solares vêm periodicamente à Terra, cada vez que se inicia
uma nova Raça...
Mas
não nos afastemos tanto da questão que vimos examinando. Devemos ter em mente a
necessidade de estudarmos um pouco mais a Nós Mesmos e dar atenção a esta
questão do Sentimento do Eu. Até aqui minhas palavras.
Samael
Aun Weor
©
2001, GNOSISONLINE.ORG
Na
maioria das vezes estamos do lado do Ego,
e pensamos que o estamos sublimando.
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